"Eu e a minha mana Birdie nascemos na rua. Uma noite, estava a chover muito e estávamos as duas com muito medo dos trovões, que ribombavam muito alto. Encolhemo-nos muito encolhidinhas uma com a outra.
- Estou com tanto medo... - disse-me a Birdie.
- Eu também... Mas pelo menos estamos juntas, e enquanto estivermos juntas nada de mal nos vai acontecer.
- Prometes-me uma coisa? - perguntou a minha irmã. - Prometes-me que vamos ficar sempre juntas? Sempre sempre?
- Sim! Prometo! Sempre juntas, aconteça o que acontecer!
Então, quando a minha mana foi apanhada na armadilha para ser esterilizada, fiquei muito aflita. Ainda por cima, eu sabia que, por causa de ter apanhado chuva naquela tempestade horrível, ela estava doente. Sabia, porque eu também estava. Foi assim que tomei a decisão mais assustadora da minha vida.
Quando voltaram a aparecer com a armadilha, eu ainda não sabia o que acontecia aos gatos que eram apanhados. Tinha tanto medo... Mas pensei que, se a minha mana tinha sido apanhada, se eu entrasse na armadilha, talvez me levassem até ela. Então, mesmo apesar de estar muito assustada, arrisquei e entrei. Sei que foi para o meu bem e da minha mana, mas tive tanto, tanto medo...
Imaginem como fiquei feliz quando me foram pôr ao pé dela. A minha mana Birdie! Estávamos as duas doentinhas, mas as raparigas que nos apanharam cuidaram de nós e (não lhes digam que eu disse isto!) foram muito queridas e pacientes connosco, que, com medo, não gostávamos nada que nos pegassem ao colo.
Agora já estamos de boa saúde. E sabem o que é que nós gostávamos? De encontrar uma família que nos levasse para casa, que brincasse muito connosco, que nos desse muitos patés. Mas o que nos faria mesmo, mesmo felizes, era que nos deixassem ficar sempre juntas. Eu prometi à Birdie. Entrei na armadilha assustadora por causa dessa promessa. Estás a ouvir, mana? Juntas, sempre. Prometo!